Não gosto de coisas negativas, não gosto de falar sobre doenças, sobre catástrofes, não gosto de me prender ao lado negativo das coisas e das pessoas, mas o negativo existe. Aliás, não sei se existe mesmo, o que sei e sinto é que existe um lado contrário ao bem estar, ao belo, ao bom e a tudo o que nos faz sentirmos alegres, felizes, leves, realizados e gratos.
Resolvi escrever sobre este tema pela freqüência com que ouço das pessoas frases como: Temos que enfrentar o negativo, não podemos chorar, não devemos ficar ansiosos, precisamos lutar contra a depressão, não podemos isso, não podemos aquilo e várias outras frases da mesma natureza. Isso me soa muito estranho, me passa uma idéia de que não podemos sentir. Como assim não podemos ou não devemos sentir algo que está dentro de nós?
Observo que a sociedade moderna não dá espaço para o luto. E por luto entenda não somente a perda de um ente querido, mas também o tempo que necessitamos para digerir uma situação. O tempo que precisamos para que nosso sistema interno volte ao normal depois de alguma perda, decepção, mudanças e várias outras coisas que abalam nosso emocional.
Você se lembra que em alguma geração passada, não sei precisar em que época exatamente, quando uma mulher ficava viúva usava roupas escuras por um longo tempo? Ela ficava afastada da sociedade, era respeitada na sua dor e fazia tudo o que uma pessoa que está sofrendo tem direito a fazer. Não saía muito, não falava muito e chorava muito. Hoje, quando perdemos alguém, quando sofremos uma decepção, quando estamos sofrendo por alguma coisa, temos que respirar fundo (se conseguirmos), deixar a dor de lado e trabalhar ou continuar normalmente com nossas atividades rotineiras.
Não defendo o dramalhão, não acho assertivo alguém que fale anos sobre o mesmo acontecimento traumático ou pessoas que ficam na dor indeterminadamente. Mas também não acho assertivo não sentir, não olhar para a dor e desprezar um aprendizado oculto por trás da situação.
Costumo dizer para meus clientes para não fugirem da dor ou do que está incomodando. Faça o contrário, fique de bem com o que o está atormentando. Por exemplo: Se você está ansioso, não fuja da ansiedade. Ela vai aumentar se você fizer isso. Então, fique de bem com ela. Diga para essa sensação em você: Ok ansiedade, o que você está querendo? Ou pergunte-se: O que posso aprender com essa sensação ou situação? Não se preocupe com as respostas, mas sim em mudar seu foco sem desconsiderar sua queixa interior. Quando você olha para o tormento e faz perguntas positivas, está dando ao tormento atenção, mas não está se entregando a ele, está mudando de foco e direção. Você está considerando o aprendizado.
Eu sou sempre a favor do bem estar, do positivo, do bem, do bom, da felicidade e alegria, no entanto, acredito que a dor não pode ser desprezada, ela faz parte de nós. Nós não devemos tornar uma situação pior do que ela realmente é, ficar amargurando, matutando, repassando o mesmo filme (negativo) na cabeça mil vezes, isso não ajudará em nada. Isso faz com que deixemos de viver a vida no presente e fiquemos presos a um passado que não nos dá nenhum recurso para agir adequadamente. Por outro lado, se dê o direito de sentir, olhe para o que o está incomodando, faça algo a respeito, use a seu favor, e depois caminhe, caminhe mais leve e recomece.
Tenha em mente que deixar de sentir é talvez não resolver, e não resolver é caminhar com um peso nas costas, na cabeça, no estômago ou em qualquer outro lugar que você esteja acostumado a guardar o que não consegue digerir.
De agora em diante, da próxima vez que algo o incomodar, não fuja, não trave guerra, não lute contra, olhe para a coisa, respire e fique de bem com este algo (no geral é de bem com você mesmo). Lembre-se de sofrer na medida, dando a importância necessária para uma situação, não faça dramas demais e nem pule de alegria falsa. Se dê o direito de sentir, olhar e decidir o que fazer e depois pule de alegria sim, porém, uma alegria genuína.
É preciso muita coragem para olhar para o negativo! Coragem para ser verdadeiro com você mesmo, coragem para assumir suas limitações, entender as limitações dos outros, compreender as limitações da sua vida e coragem maior ainda para, apesar de tudo isso, decidir que essas limitações não são o seu limite e coragem para fazer algo a respeito e ter uma vida que lhe traga crescimento e evolução.
Boa sorte em sua caminhada, estou sempre torcendo pelas pessoas, pois, sou uma apaixonada por gente! E pessoas felizes fazem um mundo melhor e eu sou a favor de um mundo melhor também.
Fico por aqui pessoal e só para lembrar, não estou aqui para dar uma receita, ok? O máximo que posso fazer por você é apontar um possível caminho, mas a medida exata, somente sua experiência lhe trará.
Abraço para quem é de abraço e beijo para quem é de beijo...